Notícias do mercado imobiliário

Casas maiores, escritórios menores: pandemia revoluciona mercado imobiliário

O mercado imobiliário foi impactado pela pandemia de coronavírus, mas
o tom entre os especialistas é otimista em relação aos efeitos que a
crise pode trazer.

Entre
as mudanças mais significativas, está um processo reverso ao que vinha
sendo observando: “se antes a tendência era a diminuição de espaços e de
vivência em espaços compartilhados, a pandemia exige o oposto: espaços
maiores e mais confortáveis, já que as pessoas passam muito mais tempo
dentro de suas respectivas casas e estão sentindo falta de uma varanda,
de um escritório bem estruturado e vão querer mudar”, afirmou Fábio
Tadeu Araújo, sócio Dirigente da Brain Inteligência Estratégica, durante
a live mediada pelo professor do InfoMoney, Ricardo Reis, nesta
segunda-feira.

Também
participaram Giancarlo Nicastro, CEO da Siila Brasil, Fernando
Didziakas, Sócio da Buildings, Thomaz Assumpção, da Urban Systems, Fábio
Tadeu Araújo, sócio Dirigente da Brain & Guilherme Werner, Marcus
Araujo, CEO e Fundador da Datastore, Cristiano Rabelo, CEO da Prospecta
Inteligência Imobiliária e Danilo Igliori, economista chefe do Grupo ZAP
e Chairman da DataZAP – Inteligência Imobiliária. Assista à mesa
redonda completa no vídeo acima.

Segundo Fábio Tadeu Araújo, é
preciso se atentar às tendências demográficas a partir de agora. “As
grandes cidades do Brasil já possuem, em sua maioria, famílias de no
máximo três pessoas. O futuro do mercado imobiliário vai ser se adaptar à
relação entre compartilhamento e redução espaços e viver em ambientes
maiores e de mais qualidade”, afirma.

Home office

Fernando
Didziakas, Sócio da Buildings, que monitora principalmente escritórios
corporativos, afirma que, segundo uma pesquisa da empresa, 80% das
empresas de SP acreditam que a partir de agora terão escritórios
menores. “E isso é um processo: casas maiores, escritórios menores.
Vamos observar uma redução da metragem da empresa e uma melhora na
qualidade do home office, que vem funcionando”, diz.

Thomaz Assumpção, da Urban Systems, também acredita que a mudança de comportamento terá forte impacto no mercado imobiliário.

“Tudo
vai mudar e vamos viver de forma mais integrada e buscando mais
qualidade, o valor das coisas vão aflorar e isso vai trazer significado.
Por isso, nosso olhar para a cidades tem sido no desenvolvendo bairros
planejados, cujos produtos são sistêmicos e complementares e incluem
varejo, hotelaria, residencial, escritórios, vários segmentos. Produtos
de nicho vão surgir, vamos diminuir a mobilidade urbana e isso vai
trazer uma nova logística mais fragmentada. Temos que monitorar o
processo do novo ciclo [do mercado imobiliário].

Vendas na crise

Uma
pesquisa conduzida pela Brain Inteligência e mais parceiros, mostra que
56% das empresas de incorporação venderam durante a crise. “Desse
total, 60% foram vendas derivadas de uma negociação iniciada durante a
pandemia. Ou seja, podemos dizer que cerca de 35% das empresas venderam
em negociações durante a pandemia, o que indica que com certeza existe
venda neste momento”, afirma Araújo.

Segundo ele, isso é reflexo
da preparação das empresas, já que o mercado imobiliário vinha se
recuperando da crise de 2014. “As empresas estão mais preparadas para
vender digitalmente e contatar digitalmente, se essa pandemia tivesse
acontecido quatro, cinco anos atrás o impacto teria sido muito maior.
Muitas empresas estão avançando para oferecer a jornada de compra do
imóvel 100% online”.

Guilherme Werner, sócio da Brain Inteligência
Estratégica, informa que, paralelamente, uma pesquisa mensal com 600
consumidores feita em abril mostra que 20% deles têm a intenção de
compra de um imóvel novo.

“É natural que diante do cenário que
vivemos que essa intenção seja postergada, mas também o encolhimento não
denota um pânico, apenas um receio prudente”, diz.

Ainda, nessa
mesma pesquisa, na edição de março, 1% dos entrevistados tinha acelerado
a compra de um imóvel por conta da pandemia. Em abril, o número subiu
para 5%. Para Verner, os motivadores são de necessidade e não desejo,
mas já é um sinal positivo.

Recuperação do setor

Sobre a
recuperação de fato do setor, ainda há um caminho a ser percorrido.
Segundo Cristiano Rabelo, CEO da Prospecta Inteligência Imobiliária, é
difícil prever algo em um cenário como o que estamos passando e acredita
em uma recuperação de médio prazo com a ajuda da internet.

“Hoje,
não chegamos nem perto dos números da gripe espanhola, por exemplo, mas
temos um fator a mais: a tecnologia. Ela tem capacidade de propagação
de incerteza muito grande, ao mesmo tempo que tem a capacidade de
reestruturação muito maior. Ou seja, o ponto de retomada pós pandemia
vai acontecer embora no médio prazo no setor. A depender, claro, das
regiões que sofreram mais com a crise. O mercado imobiliário deve ser
analisado de maneira local, microrregião por microrregião”, diz.

Segundo
ele, empreendimentos de baixo padrão, por exemplo, têm tendência à
inadimplência pela perda da capacidade de compra de muitos brasileiros
de baixa renda,” mas o reflexo é pontual. “As cidades diversificadas
economicamente não se veem um aumento de inadimplência brusco, enquanto
regiões que vivem de indústrias e comércio são severamente mais
afetadas”, explica Rabelo.

Danilo Igliori, economista chefe do
Grupo ZAP, afirma que analisa o momento sob três perspectivas: choque,
transição e o novo ciclo. “Hoje estamos no choque e vai durar enquanto
não tivermos controle da economia e enquanto não tivermos o tamanho do
custo de econômico para lidar com a crise. A principal característica do
choque é a enorme contração da demanda junto com a contração da
oferta”, diz.

E explica: “o choque negativo na demanda contrai a
quantidade de transações e também contrai os preços, enquanto o choque
negativo na oferta contrai as transações também, mas faz o preço subir.
Somados, o resultado inequívoco é o de diminuição de transações [compra e
venda de imóveis], mas o preço fica relativamente fixo, porque um anula
o outro. É o que estamos vendo, preço não teve muita alteração. E agora
só o essencial importa e qualquer decisão que pode ser postergada assim
será”, afirma.

Marcos Araujo, CEO e Fundador da Datastore,
acredita que o mercado imobiliário está mais resiliente hoje. “Todo
mundo saiu muito castigado da crise [gerada pelo] impechment e mudanças
interessantes foram promovidas, incluindo corpo de funcionários mais
enxuto e terceirização de muitas atividades. Por isso, [o setor] entrou
nessa crise já imaginando que não haveria uma explosão de lançamentos em
2020. A grande maioria dos incorporadores acreditava em ano muito bom,
mas sem explodir a oferta”, explica.

Por isso, segundo ele, o
setor está atravessando a crise com dificuldades, mas sem impactos muito
severos por enquanto. “O foco será fazer os lançamentos [já previstos]
serem os melhores, com os melhores terrenos e projetos. A surpresa foi a
digitalização, mas há estrutura”, afirma.

Shoppings: hubs de distribuição

Giancarlo
Nicastro, CEO da Siila Brasil, afirma que o setor vem enfrentando
muitas dificuldades. “Mesmo com cerca de 70 reabertos no Brasil, nem
todos com todas as lojas abertas, a ocupação representa 20% a 30% do que
os shoppings costumavam ter. Além disso, as áreas de entretenimento
serão as últimas a serem liberadas, incluindo vallet, cinema, e praça de
alimentação. É um segmento que precisará se reinventar”, afirma.

Para
ele a solução de curto prazo com o objetivo de sobreviver será a
transformação dos shoppings em hubs de consumo. “Os shoppings se adaptam
facilmente e uma das saídas é virar o chamado ‘last mile’, que serve
como alternativa do ‘self storage’. Passar a ser um distribuidor em
microrregiões. Os shoppings têm espaço e localização, então, se tirar as
pessoas de dentro, continua tendo espaço e distribui de forma mais
rápida. Vai ser a saída para a sobrevivência”, afirma.

20/05/2020 Fonte: https://www.infomoney.com.br/